segunda-feira, 8 de junho de 2009

Ricardo Bezerra - Maraponga[1978]


Com a revolução da internet uma das coisas que a dita cuja nos proporciona é o redescobrimento de grandes obras outrora deixadas para trás na história da nossa música popular. Grandes músicos e compositores estão a cada dia vendo suas obras serem conhecidas pelas novas gerações. Em alguns casos artistas ainda em atividade conquistam novos fãs a partir de discos que fizeram no inicio de suas carreiras e que permaneciam fora dos catálogos das gravadoras, que se importam com a emergência da novidade e não com a preservação na memória de obras fundamentais. Em outros casos artistas que tiveram uma passagem relâmpago e não menos importantes na nossa música vêem seus discos alcançarem mais ouvintes e é de uma dessas perolas que vamos falar. O disco em questão é Maraponga do cearense Ricardo Bezerra, cantor, compositor e músico, parceiro de Fagner desde o seu inicio de carreira, gravou este excelente disco em 1978. Com uma banda invejável, participações de Fagner e Amelinha nos vocais esse disco ainda contou com os arranjos do Mago Hermeto Pascoal. Nos instrumentos nomes como Mauro Senise (flauta), Nivaldo Ornelas (Sax e flauta), Robertinho Do Recife (Guitarras), Sivuca (Acordeão) se destacam. Ouvir um disco sem ter isso em mente é bem bacana, pois depois que se descobre quem esta por trás, ai se pensa: Só podia ser, com esses monstros todos não daria outra.
O disco possui uma qualidade irresistível, a música que abre o disco e que também lhe batiza – Maraponga – serve de fio condutor por todo o disco, que hora possui músicas cantadas e hora belas peças instrumentais. Nesta canção merece destaque, o uso do canto como um instrumento, algo que se repete durante o disco, sem proferir palavra Amelinha me seduziu de cara junto com o excelente acompanhamento de piano, violinos e o cello do Morelembaum, ela abre caminho para a música seguinte, a composição Cobra (Alano Freitas e Estelio Vale). “Lateja em tuas veias um sangue de cobra e tuas pernas bambas dão coice tal cabra e de ruim que eu possa você só me cobra, mas vou tirar-te veneno de cobra” canta a bem postada e competente voz do Ricardo acompanhado da guitarra de pegada rock do mestre Robertinho do Recife nos contrapontos e solo. A terceira música é a belíssima La Condessa de lavra do próprio Ricardo e cantada pela voz doce de Amelinha com firme poesia. As três faixas seguintes demonstram talvez a grande virtude e diferença deste álbum. São três peças instrumentais de uma qualidade hoje pouco vista na nossa música, uma verdadeira aula. A quarta é Celebração (Ricardo Bezerra) onde as flautas de Cacau, Zé Carlos e Mauro Senise praticam uma verdadeira conversação com o Cello do Jacques Morelembaum criando harmonias maravilhosas ao mesmo tempo em que seguem uma estranha melodia, quase como uma cantiga de ninar, a música segue crescendo até o seu final, uma jóia. Em Sete Cidades (Ricardo Bezerra) a guitarra de Robertinho desfila, elegante e incisiva entre o belo trabalho dos pianos do autor do disco e as vozes do coro que cantam a melodia da música. Gitana prossegue na linha instrumental, uma composição que abre espaço para a brilhante participação do pouco conhecido Nivaldo Ornelas, saxofonista de mão cheia. É a vez de Fagner entoar a melodia rasgando sua voz característica. As duas canções seguintes remetem-nos ao sentimento presente durante todo o disco: Amizade. Uma reunião de amigos que tocam sua música com honestidade suficiente para acabar com metade dos filisteus atuais da nossa música, com esses oportunistas e bajuladores que tem como hobby dizer que são artistas. Cavalo de Ferro e Manera Fru-fru são duas composições do Ricardo que foram gravadas pelo Fagner no seu inicio de carreira, e os dois as cantam muito bem juntos. E o disco encerra com uma música louca Improviso onde os dois cantores realmente improvisam suas vozes com aquela pegada típica dos repentistas.
Acabada a escuta desta perola perdida sentimo-nos agradecidos por ter a oportunidade de conhecer o único disco que o Ricardo Bezerra lançou e agradecidos também com os colecionadores que colocaram esse disco na rede para que os mais curiosos tivessem acesso a ele.

Quer conhecer este disco?

http://rapidshare.com/files/239458982/Ricardo_Bezerra_-1978-_Maraponga__320_.zip

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