domingo, 14 de junho de 2009

Lágrimas Sem Luz !


Ao passar um dedo por baixo de um dos meus olhos descubro lágrima suficiente para me dar conta de que andei chorando, ou estou a chorar ou talvez ainda de que vou começar a chorar. É certo que posso também estar com as vistas cansadas de olhar o monitor e nada ver de verdade. Posso por outro lado ter acabado de assistir um filme ou ainda não ter resistido suficientemente a essas frases esquisitas que se apresentam ao meu olhar. Não será talvez o próprio tempo que esta me coagindo para que lhe saia em socorro, ou que lhe grite impropérios, este trompetista que me sopra notas – bonitas é verdade – direto do seu tumulo. Esse trompetista que conheci por outra tela menos verdadeira ainda. Serão todos esses santos que aparecem nesta época do ano apenas pra me atazanar a vida e me fazer recair em velhos erros, o que será que será já é ou já foi. No entanto meus olhos ainda não secaram e isto esta me afligindo, como outras coisas menores ainda me afligem vez por outra sem nenhuma justificação racional para tanto. Deveria ser uma espécie de impossibilidade lógica que num domingo a tarde qualquer pessoa em sã estado de consciência se sinta mal por qualquer dia passado ou futuro, e já que não reconheço neste instante motivo para tal, deveria eu mesmo me considerar louco, ou pelo menos levemente perturbado. Mas o problema é que não existe nada que seja uma impossibilidade lógica ou algum estado estúpido o suficiente para ser designado sã estado de consciência. No entanto as lágrimas mudaram de olhos e ainda assim tudo permanece na mesma. Se ela chora é porque algo vai mal, se mesmo assim não consigo deixar de me inquietar é porque não estou bem, apesar de não sentir nada que seja digno de chamar um médico, e mesmo que sentisse. O sol por outro lado estar calmo, o vento não me toca o corpo e o sol também não, somente essa fraca luminosidade que talvez esteja me incomodando os olhos e assim fazendo-me brotar lágrimas insuspeitas e inexplicáveis. Só agora me toquei de que restam ainda dois cigarros no maço mas os fósforos acabaram de acabar e o acendedor automático do fogão esta queimado, quando o acendedor queima é sempre um mal sinal, talvez seja isto. Ou ainda a falta de exercícios físicos,o que é uma hipótese extremamente estúpida e desonesta, afinal o corpo jamais grita de dor com lágrimas, não nas pessoas normais, temos enfartos, derrames, enfisemas, qualquer destes troços antes que algum lágrima mande avisos condescendentes. Lágrimas avisam outras coisas e é isto que me preocupa, avisos que chegam como pés de pomba, de mansinho avisando a maior tragédia sem nos dar maiores pistas. Duvido que seja um aviso, as lágrimas não tem compaixão suficiente para saírem corendo de suas glândulas, afoitas em dar-me qualquer aviso que seja, que idéia mais imbecil, pensar que as lágrimas seja avisos de tragedias. Lágrimas são efeitos de qualquer coisa, e me dando conta de que não estou a sofrer de nada que seja manifesto, além de fugos da especie pitiriase versicolor e de algumas caries, estas sim num estado já visível e que doem vez por outra, mas não agora (fungos não doem, coçam), tudo continua na mesma. Engraçado que até então nunca li em parte alguma sobre esta situação completamente anormal de alguém que não saberia descrever o porquê das lágrimas e pior ainda, se esta chorando ou se não esta chorando. Chora-se de dor, chora-se de alegria, chora-se de depressão, chora-se por não conseguiu aquela vaga e vai passar fome, ou ainda por que não conseguiu comprar aquilo que queria, ou de outra coisa qualquer, é uma impossibilidade lógica não saber se se estar chorando ou não. Pensando bem ou pensando mal, pouco importa, seria uma boa possuir uma patologia própria, um estado agudo qualquer que me desse um nome próprio. Ser transformado em doença, ser homenageado com um medicamento descoberto na Amazônia por algum pesquisador que devotou 20, 30 anos de pesquisa e que enriqueceu por descobri um colírio extraído do veneno de uma rã de 15 cm, habitante de grande folhas só encontradas em meio a densa floresta. Sim um sofrimento, uma angustiazinha dessas valeria isto, este paradoxo seria justificado. E vou logo avisando que não me tentem curar-lo com garrafas, nem com rezadeira famosas, nem nada de popular, não aceito pouca ou nenhuma explicação para meu caso. As rezadeiras que fiquem longe, eu só admito pesquisadores com Pós Doutorado, de qualquer espécie gastronômica: sanduiche ou salada, sei lá. Um levantamento completo, mostrando se o caso é genético ou não, qual sua causa fisiológica, social ou psíquica, talvez econômica, tanto faz. É preciso levar a ciência também a essas loucuras para que ela encontre melhor seu caminho no rumo da aceitação de uma cura simples para um estado anormal, um colírio ou um comprimido, veja você. Ter o nome encarcerado para sempre nos maiores almanaques, na verdade papers, como hoje é de praxe na comunidade médica. Conheci pessoas que tinham pretensões menores, mas essas não tiveram tamanho parodoxo encarnado em si (sem falsa modéstia, claro), e nem faziam por merecer. Quanto mais as pretensões ficam pequenas, mas tranqüila seguem suas vidinhas. Depois não querem entender os loucos, eles sempre querem algo maior, são pessoas muito pretensiosas, não dá outra, ficam pelos pontos fingindo que são ônibus, ou que guardam consigo a palavra que vai nos libertar a todos para que consigamos alisar as barbas de um leão sem ser mordido, e isso não é pouca pretensão. De toda forma agora é meu nariz que escorre e não estou gripado ou penso que não estou, começo a desconfiar que talvez seja um simples resfriado e que no mais vou ter que cair no chá de limão com alho que por sinal é tiro e queda se você tomar por três dias seguidos. Ela até agora não voltou, se trancou no quarto e não posso avaliar se esta com o seu nariz escorrendo também. Mas desconfio de que não esteja, afinal meu caso tem que ser único para alcançar a devida fama. Agora que o sol se pôs e nada de cessar estas esquisitas ocorrências, chegou aqui um velho amigo que não vejo há muito tempo. Ele descuidadamente, pois não tem faro clinico, me pergunta se não vamos tomar uma como combinado, lhe recuso na lata, nada de cervejas e lhe explico que preciso manter o estado psíquico como este se apresenta, nada de alterações com substâncias alucinógenas. Ele se despede de imediato e eu fico aqui aguardo o estado se agravar, ou ser apunhalado pelas costas, tanto faz!

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