quarta-feira, 13 de maio de 2009

O Céu do cruzamento de estilos com a Música Popular Brasileira: O Cangote!


Entre o pescoço, tronco e os membros. Quem disse que o pensamento nasce na cabeça? No seu novo EP intitulado Cangote, espécie de petisco para seu próximo disco cheio, a cantora paulista Céu não nos mostra nada de diferente do que já nos havia presenteado com seu disco de estréia o belíssimo Céu de 2005. A falta de diferenças é aqui um elogio, afinal os que souberam apreciar o frescor trazido com sua aparição, vão apenas reafirmar todo o talento de uma artista que trafega lindamente pelo reggae, afro-beat, hip-hop, jazz, eletrônica e pela música popular do Brasil. E esse é para nós o grande mérito da artista. Não fazer de nenhuma paquera, um caso de paixão obsessiva. O tratamento dado a cada canção no seu álbum de estréia e aqui nesse EP é de modo a não fazer nada sobressair-se por demais, causando assim o efeito de matar a música em favor do gênero. É justamente a graça da Céu, agraciar as diversas matrizes aonde ela bebe de modo a produzir antropofagicamente a nossa música, simulacro pós-moderno nesse sentido. A perda de referência aqui esta a favor de um percurso, não importa de onde se está vindo, Céu faz o canal.
Auxiliada por excelentes músicos, eles e a cantora costuram entre as 4 faixas deste EP texturas e tonalidades musicais inusitadas. Os trabalhos se abrem com uma levada meio orientalizante de nome Bubuia, com belos trabalhos de guitarra que formam um pano de fundo brilhante para o batuque que empurra a música a uma atmosfera conscientemente chapada, flutuando sem tirar os pés do chão. Esta música, uma espécie de mantra esquentando, nos faz vislumbrar uma descrição existencial, espécime de prólogo para o que vem a seguir, pois o disco pode ser chamado de calminho, o que não é nem um pouco pejorativo. Aos que se deliciaram com o seu cover de Concrete Jungle do mestre Bob Marley, Céu vem agora com mais um belíssimo espécie jamaicano, a música título do disco: Cangote. Em Cangote os trabalhos de teclado e back vocals se destacam, extraindo efeitos diferentes do que comumente vemos nas bandas de Reggae. Com uma letra afetivo-malemolente, somos novamente levados neste turbilhão de qualidade e canibalismo que Céu e seus músicos nos propõem. Aliás, nesse disco a cantora deixa seus flertes com as sonoridades jamaicanas mais desavergonhados. De título Sonâmbulo, um ragga cantado com o swingue necessário e o balanço primordial da ilha, é a terceira faixa inédita, entoada, a forte letra desta canção é uma crítica da domesticação sensorial do que o mass-midia propõem como elemento de controle social e empobrecimento subjetivo:

"Numa espécie de limbo, sonâmbulo anda feito pêndulo, ora pende dormindo, ora pende contra o tempo e faz deste inimigo atrasado, correndo, justifica um vazio interno imenso, fugas mentais ocupam os pensamentos, até que se torne incapaz de se ocupar a si mesmo, Tvs, cine jornais, quimicas um intento: bloquear os canais, domesticar seus anseios. Que é bom desconfiar dos bons elementos.( refrão)
Feito histórias de Moebius vão tirar sua visão, te dar olhos passivos adequados ao padrão."

E depois dessa porrada, pra fechar o disco e nos deixar tremendo e se coçando na espera do seu próximo trabalho, uma releitura: Visgo de jaca (Sergio Cabral e Rildo Hora). Entre o funk e o samba, a música ressurge com toda sua potência revigorada. Céu demonstra que os rótulos apenas servem para as enciclopédias e os fariseus da cultura, o que importa e sempre importou quando se trata de música, são as torções que os criadores operam na tradição. De Beethoven a Hendrix, de Chiquinha Gonzaga até Paulinho da Viola...


Onde achar:

O disco pode ser baixado em http por este link: http://lix.in/-4fa1f8
Por via do torrent, com muitas sementes e boa conexão: www.sombarato.org

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