quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Jards Macalé


Minha relação com ele começou quando minha sogra teve um derrame e eu adorava! Adorava a sensação de ficar no hospital, é claro querendo que ela se recuperasse e voltasse a me encher o saco.... O caminho pro hospital era longo, Pernambués - Fazenda Grande era um verdadeiro martirio, já tinha experiência de um mês de HGE e agora Roberto Santos menos from hell. Meu discman era a salvação tanto pro trajeto quanto pras noites frias de acompanhante, e lá ia eu como a um pic-nic de boa, a cada noite uns discos diferentes, lá descobri Beatles, vi as "normalidades do sistema de saúde", enfim curti bastante. De madrugada no HGE, era muito interessante, eu encontrei um cara que trabalhou pro meu tio, quando meu tio alugou o taxi, e que se encontrava no HGE. Porém, como mendigo dormindo numa lanchonete em frente ao hospital, tinhamos conversas empolgadas na madrugada sobre politica, ele me contando que mal dizia a comida do prato do povo: - Comida ruim da desgraça!!! E os mendigos ou pobres que ali se encontravam se benziam... Enfim tinha de um tudo, meninas acompanhantes procurando namorados entre os seguranças e maqueiros. e eu ficava por lá cheio de pompa e circunstância, acompanhado da Genealogia da Moral, mal dizendo os cristãos que entravam na emergência com o fedor de morte, num lugar que clamava por vida! Numa dessas idas pro meu plantão, escutei Jards Macalé - 1972, album que tinha colocado pra baixar na saída da noite anterior. Simplesmente fantástco, tinha as nuances da Tropicalia porém com letras num viés existencialistas!E tinha todo o inconformismo com formulas que eu vinha e venho negando, Lanny Godin presente num excelente trabalho, tudo economico e com um push muito forte! Enfim um daqueles discos geniais que na primeira audição sabemos que vamos escuta´lo pela resto da vida. E diante destas circunstâncias, eu ficava ainda mais empolgado, minha sogra a esta altura já se recuperando bem e eu tomando café e fumando a noite toda enquanto o Jards cantava nos meus ouvidos:

Quando eu nasci,
Veio um anjo muito solto, muito louco
Veio ver a minha mão
Não era um anjo barroco era um anjo torto
Com asas de avião
E eis que o anjo me disse
Apertando a minha mão
Entre um sorriso de dentes
-Vai bicho desafinar, o coro dos contentes,
Vai bicho desafinar o coro dos contentes!

Palavras definitivas gravadas na carne e no espirito de forma indelevel!Obrigado Jards você deixou meus dias mais fortes!

Se você chegou até aqui e não sabe o que fazer pra ouvir esse disco, é simples: soulseek ou coloque no google: Jards Macalé 1972, ou se cadastre no excelente www.sombarato.org e baixe via torrent!!!

Um comentário:

Unknown disse...

Ainda não ouvir Jards Macalé, mas lembro que Falcão, do Rappa, sempre fala dele.

Agora, independente de qq coisa, essa sua "crônica musical hospitalesca" está FANDÁRDIGA!!!

Abraço!